30 de ago. de 2011

Resposta aos "Perdidos Contemporâneos", citados por Arnaldo Jabor


Em uma, a principio, apologia ao mais novo filme de Woody Allen, Arnaldo Jabor acaba por desenvolver uma cadeia de raciocinio criticando a Arte Contemporânea e seus produtores.


Por que?

Segundo ele, "Meia Noite em Paris" é uma viagem aos tempos de gloria da arte, onde os artistas eram respeitados e a "arte prometia um tempo novo, antes de ser transformada num gueto da industria do entretenimento" (Jabor, O Estado de S. Paulo, 30/08/2011)
Apos essa afirmativa, ele entra em um estado contemplativo relembrando como foi seu encontro outrora com artistas da época "gloriosa"...

O Arnaldo Jabor tem todo o direito de se sentir saudosista com a época que se foi, juntamente com sua arte caracteristica e seu glamour. Na verdade, o que ele esta' fazendo é exatamente o que a Arte Contemporânea faz ha mais de 50 anos (e que, para uma pessoa publica e influente como ele, deveria ser obvio): questionar os valores modernos da industria cultural, procurar suas raizes num passado longinquo e não ter perspectivas de um futuro palpavel..

As Artes refletem exatamente - porém subjetivamente - o momento pelo qual a sociedade em questão esta passando. E assim acontece com a Arte Contemporânea. Torna-se necessario a todos nos percebermos esse movimento critico tão importante.

Não estou negando que nos dias de hoje muito do que é produzido é produzido exclusivamente para agradar às massas e arrecadar lucros megalomaniacos; porém em toda a historia da arte houveram artistas que produziam para ganhar dinheiro.

A diferença é que vivemos em um tempo em que TUDO deve ser MEGA.

Portanto, ha Mega produções, Mega divulgação, Mega lucros - mas ha também os verdadeiros artistas, aqueles que foram e continuam sendo as minorias: minoria critica, minoria pensante, minoria revolucionaria, minoria visionaria.
E são a essas "Minorias" que devemos focar nossos olhos. Mesmo um MEGA diretor pode ser uma minoria. Inclusive, esta é uma caracteristica fundamental dessa época em que vivemos:

Tudo pode ser! 

O mundo e o homem são eternas construções sem um fim evidente, ou mesmo alcançavel. 
E a arte contemporânea evidencia essa caracteristica.

Logo, ao invés de se lamentar do tempo que passou, porque não se maravilhar com o que esta acontecendo?

Graças à globalização e mesmo a produção cultural, no's temos acesso direto a uma infinidade de pensamentos diferentes, expostos de diversas formas e livres para serem o que quiserem! Não ha como negar tal riqueza cultural.

É caracteristica do pensamento contemporâneo: sentir-se sem historia, sem raizes, sem valores, perdido no tempo e no espaço graças à pequenez do mundo, perdido de si graças à massificação da sociedade.

Mas é também caracteristica do momento em que vivemos: 
Buscar criar nossa propria historia, 
renovar e criar novos valores, 
recriar uma condição espaço-temporal nunca antes imaginada, 
sentir-se grande no mundo devido à sua liberdade de pensamento e de ação, ser livre de todas as amarras que existiam antes.

Portanto, ao invés de criticar o presente tendo em vista o passado, porque não reavalia seus proprios pensamentos Sr. Arnaldo Jabor e identifique-se como um homem contemporâneo, que tem todas aquelas caracteristicas negativas citadas acima e nenhuma das positivas citadas posteriormente!

Pense, procure entender, atualize seu banco de dados, abra os olhos, e então sera capaz de refletir sobre a Arte Contemporânea. So' então, dê seu parecer.

E tenho dito. 

PS.: Não tenho nenhuma critica quanto ao filme de Woody Allen, muito pelo contrario, respeito demais e sou fã do diretor.

PS.2: Também não tenho criticas quanto aos que gostam ou deixam de gostar      de determinada arte, apenas luto pela compreensão da sociedade face à Arte Contemporânea, que costuma ser rejeitada sem considerações mais profundas.






Marcel Duchamp - pioneiro na Arte Contemporânea



19 de ago. de 2011

Dark Dark Dark

Essa banda me interessou principalmente pela perfeita combinação da forte e imponente voz de Nona Marie Invie e do delicado som instrumental de acordeons, banjos e piano. 


De influência folk e jazz, Dark Dark Dark ja esta chamando a atenção do cenario alternativo mundial. 


Um som maravilhoso que vale a pena ser conferido. 









Mais infos da banda, no MySpace.

Download das musicas aqui. 

12 de ago. de 2011

Incêndios

Entre um filme e outro, um livro e outro, e eis que me lembro desse filme maravilhoso que assisti ano passado.


Incêndios, um filme canadense de Dennis Villeneuve. Como a maioria dos filmes bons, não saiu como blockbuster, apenas nos cinemas alternativos/ independentes.. O que é uma pena, pois o filme é digno de cadeia nacional..


Enfim... Conta a historia de uma mãe solteira que morre e deixa um testamento a seus dois filhos.
Nesse testamento ha duas cartas: a primeira a ser entregue ao pai deles, e a segunda, ao irmão também desconhecido.
Os irmãos saem em busca desses dois homens desconhecidos, que sequer sabiam da existência.. No Oriente Médio, em meio à guerra.


Apesar da sinopse ser simples e nada inovadora, o filme é repleto de cenas emocionantes e até revoltantes. Da odio, angustia, raiva.


Mas fala de amor.
Incrivelmente, é uma historia de amor.Um amor incondicional, que é passado às telas com perfeição.
Como nunca antes foi contada.


Realmente um filme maravilhoso. Que todos deveriam assistir.. Independentemente de estar nas grandes salas ou não.


Recomendo para o fim de semana.







7 de ago. de 2011

Eraserhead - Uma Leitura Subjetiva

Enquanto assistia a Eraserhead, de David Lynch, inumeras questões vieram à mente. Sobre o roteiro, a seleção de algumas imagens aparentemente nonsense, alguns objetos "de decoração" estranhamente selecionados. 
Tentei entender um a um para chegar a uma conclusão, no minimo, aceitavel. Não necessariamente verdadeira, se é que tal pretensão seja possivel. 


Minha conclusão foi acerca da critica ao ascetismo tão excêntrico que vivemos de algumas décadas para ca. 
Para quem não sabe, o ascetismo é uma filosofia de vida que visa purificar o espirito negando as reações corporeas. Essa filosofia se estendeu por todo nosso cotidiano, querendo ou não. Por exemplo, a carne perfeitamente cortada e embalada no supermercado é uma forma de ascetismo: negamos a visão perturbadora do animal morto e ensanguentado indo para nossas mesas. 


Acho que deu pra entender. Vamos ao meu brainstorming.


Selecionamos o que queremos ver e registrar. O q você anda apagando, é o que deveria ser apagado? A realidade é realmente como acha que é? Ou estão faltando partes fundamentais que trazem à vida sua intensidade? 
O sangue é o que mais nos choca, portanto, praticamente o excluimos de nossas visões.. Nem mesmo a carne consumida possui sangue hoje.. Evita que nos lembremos de sua origem. A vida. E a morte, consequentemente.


Nos afastamos de tudo que nos traz asco. Apagamos de nossas vidas momentos desagradaveis e sujos. Tentanto, dessa forma, viver "mais felizes"? Mais puros? 


A visão de um filho seu (uma obra sua, sua criação) que nasce deformado, que causa repulsa, você cuidaria dele do mesmo modo que cuidaria caso fosse um bebê "capa de revista"? 
Nos somos os causadores e produtores dessa sociedade ascética, que não quer enxergar a realidade, não quer enxergar a vida, tal como ela é. 


E no entanto ela esta ali, ao seu lado, inevitavelmente. Gritando por sua atenção. Mostrando sua verdadeira face, aquela que resolvemos apagar de nossa visão. De nossa historia. 
Porque ao negar a vida, estamos aceitando a morte. é uma questão logica. 
Aceitar a morte, neste contexto, significa perder o brilho e a emoção reais; é perder o contato com nossa essência humana. Que tentamos, por tanto tempo, modificar. 


No entanto, ao mudar a essência de algo, esse algo permanece o mesmo? Ou se transforma em outra coisa?  
A literatura futurista sugere que nos tornaremos outra coisa, e não mais um ser humano.. é de se pensar..


Não estou dando fatos do filme, cabe assisti-lo, a quem se interessar (afinal, não é um filme facil de levar até o final, além de sermos constantemente deparados com o que é real na vida). E ter sua propria visão. Sua interpretação. 


Eraserhead é um filme muito confrontador e por vezes perturbador em suas imagens, mas extremamente (sim, frisado), extremamente sutil ao passar sua mensagem. O que induz a inumeras interpretações. Sem perder seu objetivo.


Recomendo a todos que se interessem, ou que não tenham a preguiça cômoda de assistir a um filme pronto e obvio. 




Deixo o trailer. E boa leitura.