7 de ago. de 2011

Eraserhead - Uma Leitura Subjetiva

Enquanto assistia a Eraserhead, de David Lynch, inumeras questões vieram à mente. Sobre o roteiro, a seleção de algumas imagens aparentemente nonsense, alguns objetos "de decoração" estranhamente selecionados. 
Tentei entender um a um para chegar a uma conclusão, no minimo, aceitavel. Não necessariamente verdadeira, se é que tal pretensão seja possivel. 


Minha conclusão foi acerca da critica ao ascetismo tão excêntrico que vivemos de algumas décadas para ca. 
Para quem não sabe, o ascetismo é uma filosofia de vida que visa purificar o espirito negando as reações corporeas. Essa filosofia se estendeu por todo nosso cotidiano, querendo ou não. Por exemplo, a carne perfeitamente cortada e embalada no supermercado é uma forma de ascetismo: negamos a visão perturbadora do animal morto e ensanguentado indo para nossas mesas. 


Acho que deu pra entender. Vamos ao meu brainstorming.


Selecionamos o que queremos ver e registrar. O q você anda apagando, é o que deveria ser apagado? A realidade é realmente como acha que é? Ou estão faltando partes fundamentais que trazem à vida sua intensidade? 
O sangue é o que mais nos choca, portanto, praticamente o excluimos de nossas visões.. Nem mesmo a carne consumida possui sangue hoje.. Evita que nos lembremos de sua origem. A vida. E a morte, consequentemente.


Nos afastamos de tudo que nos traz asco. Apagamos de nossas vidas momentos desagradaveis e sujos. Tentanto, dessa forma, viver "mais felizes"? Mais puros? 


A visão de um filho seu (uma obra sua, sua criação) que nasce deformado, que causa repulsa, você cuidaria dele do mesmo modo que cuidaria caso fosse um bebê "capa de revista"? 
Nos somos os causadores e produtores dessa sociedade ascética, que não quer enxergar a realidade, não quer enxergar a vida, tal como ela é. 


E no entanto ela esta ali, ao seu lado, inevitavelmente. Gritando por sua atenção. Mostrando sua verdadeira face, aquela que resolvemos apagar de nossa visão. De nossa historia. 
Porque ao negar a vida, estamos aceitando a morte. é uma questão logica. 
Aceitar a morte, neste contexto, significa perder o brilho e a emoção reais; é perder o contato com nossa essência humana. Que tentamos, por tanto tempo, modificar. 


No entanto, ao mudar a essência de algo, esse algo permanece o mesmo? Ou se transforma em outra coisa?  
A literatura futurista sugere que nos tornaremos outra coisa, e não mais um ser humano.. é de se pensar..


Não estou dando fatos do filme, cabe assisti-lo, a quem se interessar (afinal, não é um filme facil de levar até o final, além de sermos constantemente deparados com o que é real na vida). E ter sua propria visão. Sua interpretação. 


Eraserhead é um filme muito confrontador e por vezes perturbador em suas imagens, mas extremamente (sim, frisado), extremamente sutil ao passar sua mensagem. O que induz a inumeras interpretações. Sem perder seu objetivo.


Recomendo a todos que se interessem, ou que não tenham a preguiça cômoda de assistir a um filme pronto e obvio. 




Deixo o trailer. E boa leitura. 


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