2 de nov. de 2011

A pele que tu habitas



Uma semana apos assistir ao novo filme de Almodovar, "A pele que habito", permaneço pensando.


O filme trata com destreza as dificuldades que suas duas personagens principais têm com suas imagens.
Sua trama extremamente rica em detalhes e em questões psicologicas nos prende até o final, e por mais alguns dias.. Da o que pensar.


No meu caso, o que mais me chamou a atenção foram as crises existenciais por que passam as personagens. Cada um tem uma questão, que vai se desenrolando ao longo do filme. O médico aparentemente confiavel, responsavel e bem visto na sociedade mostra sua "outra face", enquanto que Vera, uma mulher atraente e tranquila demonstra todas as suas angustias que permanecem internas, não são expressas.


Nos ultimos 50 anos, pelo menos, vivemos uma cultura de imagens, na qual devemos (ou deveriamos?) exibir uma imagem correspondente aos nossos anseios materiais. Adultos devem exibir (literalmente) seu sucesso e independencia, jovens devem exibir sua revolta, enfim.. Cada um expondo suas ideologias e status...
O que acontece quando ha um exagero, um profundo culto à imagem pura e simples, é a abstração do que ha por tras, no interior das pessoas.. Julgamos o livro pela capa. E todos sabemos que muito além da imagem que representamos ha uma infinidade de outras caracteristicas e interesses muito mais profundos que simplesmente não podem ser deduzidos de nossa "imagem  publica".


Antes de defender com todas as armas sua imagem, ou de criticar a do outro, procure perceber e se questionar o que o leva a se mostrar de tal maneira, quais são suas influências? O que esta querendo afirmar com esta imagem? O que esta tentando esconder com essas mascaras?


O segredo da felicidade encontra-se em aceitar-se tal como é, sem nada a provar nem a si ou aos outros. "Torna-te aquele que és." diz Nietzsche. Conheça a si mesmo, e automaticamente essa sera sua imagem, sua pele. Sem mascaras, sem imagens pré planejadas.


Habita tua propria pele, e não a dos outros.



17 de out. de 2011

Kim Ki Duk

Gostaria de compartilhar a minha paixão pelo diretor sul coreano Kim Ki Duk.
Infelizmente, seus filmes não são muito divulgados aqui no ocidente, ao menos no Brasil é dificil encontrar referências e filmes..


Digo infelizmente, pois Kim Ki Duk é um diretor extraordinario. Faltam palavras e adjetivos para dar uma idéia do poder de sua obra. 


Extremamente simbolico e subjetivo, Kim Ki Duk trata em seus filmes de temas profundos acerca da natureza do homem, tais como o amor, os ciclos da vida, a amizade, a morte. No entanto, apesar de serem temas extremamentes complexos e indefiniveis, esse maravilhoso diretor traz a tona todos os nossos sentimentos e nos abala com uma força inimaginavel.


Sutil e com poucos dialogos, o diretor representa fielmente o dito popular: "uma imagem vale mais do que mil palavras." Seus filmes encontram-se imersos em um ambiente simbolico, emocional e repleto de cenas que dão muito o que pensar..


Não tratarei de nenhum especificamente. Apenas gostaria de dar uma chance a todos de conhecer seus explêndidos trabalhos. Vale demais a pena. 


Bom proveito. 


Primavera, Verão, Outono, Inverno... E Primavera de Novo


Breath

3- Iron




Filmografia





16 de out. de 2011

Meia- Noite em Paris

O mais novo filme de Woody Allen (2011) relata a historia de um jovem casal que vai a Paris pouco tempo antes de seu casamento. 
O noivo (Owen Wilson) é um escritor que encontra dificuldades em seu novo livro, e acredita que Paris é a cidade perfeita para ter ideias e inspirações. 


A historia gira em torno da sensação de nostalgia que contagia Gil (Owen Wilson). Ele acredita que "nasceu tarde demais", na época errada. Seu sonho é viver na Paris da década de 20.
Enquanto passeia pela cidade à noite, apos as badaladas da meia noite soarem, ele entra em um novo mundo.. 
Volta à década de 20, onde encontra seus grandes idolos como Ernest Hemingway, Scott Fitzgerald, Picasso entre outros. 


Um maravilhoso retorno a uma época que muitos consideram a mais bela, e a mais produtiva. 
Dotado de uma fotografia explêndida e uma trilha sonora repleta de Ella Fitzgerald, Woody Allen nos traz uma deliciosa volta ao passado, uma nostalgia de fato.


No entanto, sua grande e genial sacada é que, não importa a época em que vivemos, sempre achamos que as anteriores foram melhores, mais ricas, mais ingênuas. E essa questão, tão contemporânea é tratada com uma sutileza e inteligência tão grandes que so' confirmam a minha paixão pelo diretor..


Deixo a dica para o fim de semana. Impossivel não assistir e não se apaixonar.



13 de out. de 2011

Assim falou Zaratustra

"Você deseja, meu irmão, adentrar a solidão? Você deseja procurar o caminho para si mesmo? Contenha-se ainda um pouco e me escute.
'Quem procura a si mesmo facilmente se perde. Toda solidão tem culpa' : assim fala o rebanho. E você longamente deu ouvidos ao rebanho. 
A voz do rebanho ainda vai ecoar fundo em você. E quando você disser: 'Ja' não tenho a mesma consciência que vocês!' ha' de ser em tom de queixa e de magoa.


Veja, essa magoa ainda tem origem naquela mesma consciência; ee o ultimo fulgor daquela consciência ainda arte e te atribula.
Porém,  você deseja atravessar o caminho da tua tribulação, que é o caminho para si mesmo? Então mostre-me seu direito e sua força para tanto!
Sera' que você é uma nova força e um novo direito? Uma arrancada inicial? Uma roda que roda por si? Você pode comandar estrelas a rodarem à sua volta? 


(...)


Solitario, atravessas o caminho daquele que ama: amas a ti proprio e, por isso, desprezas-te, tal como so' aquele que ama sabe desprezar.


Criar, é o que deseja aquele que ama, porque despreza! Que é que sabe do amor aquele que nunca precisou desprezar justamente o que amava?


Com teu amor va' para tua solidão e também com teu criar, meu irmão; e so' tarde chegara' a hora da justiça alcançar-te.


Com minhas lagrimas, va' para a tua solidão, meu irmão. Eu amo aquele que acima e para além de si mesmo quer criar, e assim enfrenta as profundezas.


Assim falou Zaratustra."

25 de set. de 2011

A Simples Matematica dos Complexos Relacionamentos

Estive pensando sobre relacionamentos..
Todos querem encontrar sua cara metade, o outro que ira nos completar.. 1+1=1 (Ou seria 1/2 + 1/2 = 1??)


Mas por outro lado, ha uma infinidade de "especialistas" que afirmam que so' quando somos completos por nos mesmos, é que podemos verdadeiramente amar o outro..
No entanto, quando somos completos, não temos a outra metade, ela ja nos pertence.. Como fica então o relacionamento com o outro?
Sera que ha espaço para ele? Sera que anulamos parte nossa para que parte dele possa existir? Ou sera que acontece uma nova reação (desconhecida pela grande maioria) na qual 1+1=2 ?
Duas unidades somadas, resultando em apenas 1 unidade... E qual seria o valor ontologico dessa unidade resultante?? Simplesmente a soma dos dois primeiros, ou uma entidade completamente nova e diferente?


Afora a matematica, que serviu apenas como uma ilustração (ou mesmo como uma confusão..), ainda me pergunto o que deve valer mais a pena..
Fato é, que relacionamentos não são eternos. E portanto, ao terminar um é bom que permaneçamos completos... Fica mais facil seguir adiante e encontrar um proximo amor...
Mas se somos completos sozinhos, porque ir atras do outro?
Das duas uma: ou nunca seremos completos sozinhos, ou nunca seremos "um" com o outro.


E seguindo esse raciocinio entro em um ciclo vicioso...


Enfim... Sem chegar a nenhuma conclusão, exponho minha opinião:


Admiro aqueles que não ligam de ser a metade de outra pessoa, e vão incessantemente buscando outras metades ao longo da vida para se sentirem completos.
Admiro ainda mais aqueles que são completos por si so'. Mas não entendo o que acontece numa relação de dois completos.. Ainda não entendi..


Talvez nunca entenda. Nenhum dos dois. Ou nenhum dos meios.







23 de set. de 2011

Afinal, o que é a "Felicidade"? 


Ninguém tem uma resposta padrão para essa pergunta. O que temos é uma noção pessoal daquilo que sentimos quando determinadas situações acontecem dentro ou fora de nos. 


O que é importante perceber, é se sua felicidade depende exclusivamente de você, de seus sentimentos e suas reações aos outros, ao mundo. Ou se depende exclusivamente dos outros, de como reagem ou de como o mundo "te trata". 


O grande filosofo Spinoza defende que somos plenamente capazes de apenas nos afetarmos positivamente com os outros e com nos mesmos. Ou seja, apesar de todas as desavenças que podem nos ocorrer, somos capazes de escolher como somos afetados. 
Podemos escolher nos afetar positivamente com tudo o que aconteça, seja bom ou ruim. O que importa não são os fatos ocorrentes, mas como os enxergamos. 


No entanto, para isso é necessario se conhecer. Se conhecer a fundo, como funciona seu interior, quais são seus medos e esperanças, o porquê de nossas reações serem como são. Feito isso, somos capazes de transformar nossos afetos em algo positivo para nossa essência. Sempre. 


Esse é um dos maiores ensinamentos que absorvi deste grande homem. Me apropriei de sua ética. De seu modo de ver a vida. 
E o resultado é: enxergamos que nem todos querem de verdade nosso bem, a maioria das pessoas é egoista e não se da conta (diz que quer seu melhor, mas so' apoia enquanto não os afeta, por exemplo). 
Se optamos por nos afetar bem sempre, enxergamos os desejos mais internos das pessoas, e as perdoamos por isso. E melhor ainda: não nos afetamos mal com suas ações impensadas, reativas.


A cada novo dia me deparo com todo tipo de pessoa e, garanto, que fico feliz com quem de fato me quer bem, e aceito, mas não absorvo aqueles que não se conhecem, que não me conhecem (mas acham que sim), aqueles que so' pensam em si. 


E sigo feliz. 
Sem precisar conceituar nada. 

11 de set. de 2011

Devaneios

Estamos tão (mal) acostumados com a facilidade de obter o que queremos, que quando temos que nos esforçar um pouco mais para conseguir, achamos ruim?


Passei por um tempo de dedicação exclusiva (e digo exclusiva mesmo!) ao meu trabalho. A algo que faço com extremo prazer e paciência. Mas considero este tempo passado muito ruim, estressante, cansativo. Mas ao mesmo tempo bom, proveitoso, e frutifero.


Como pode a mesma coisa ser considerada como Boa e Ruim ao mesmo tempo? Não deveriamos escolher apenas uma das qualidades acima? Ou não?


O que nos leva a sermos tão ambiguos? Sera que ainda me encontro indecisa quanto ao tempo passado? Ou estarei tão habituada a não precisar me esforçar em nenhuma situação (vide a internet, e o google) para conseguir o que quero - que considero "ruim" esse esforço direcionado?


Pensavam os antigos "nossa, esculpir é horrivel, da muito trabalho, mas o resultado é bom"? Ou eles simplesmente aceitavam todo o processo com prazer?
Provavelmente, a segunda opção.


Estamos mal acostumados. Tudo é muito simples nos dias de hoje. Tudo encontra-se, no maximo, a um clique de distância. Tudo é provido por nossos pais.


Acredito que nossa geração sofra de uma grave deficiência: a de ter que lutar, e mais - a de aceitar como essencial essa luta.


Batalhar por nossos objetivos é natural. Sem o esforço, o resultado obtido não é tão valorizado como deveria ser. E então acredito que neste momento, o trabalho perde ainda mais seu valor.


E quando não ha mais valor, como saber o que é mais importante? Como saber o que vale realmente a pena?
Como saber o que possui um falso valor, ou esta erroneamente supervalorizado?


Deixo as perguntas.
Creio que cada um tera sua resposta particular. Ou não.

30 de ago. de 2011

Resposta aos "Perdidos Contemporâneos", citados por Arnaldo Jabor


Em uma, a principio, apologia ao mais novo filme de Woody Allen, Arnaldo Jabor acaba por desenvolver uma cadeia de raciocinio criticando a Arte Contemporânea e seus produtores.


Por que?

Segundo ele, "Meia Noite em Paris" é uma viagem aos tempos de gloria da arte, onde os artistas eram respeitados e a "arte prometia um tempo novo, antes de ser transformada num gueto da industria do entretenimento" (Jabor, O Estado de S. Paulo, 30/08/2011)
Apos essa afirmativa, ele entra em um estado contemplativo relembrando como foi seu encontro outrora com artistas da época "gloriosa"...

O Arnaldo Jabor tem todo o direito de se sentir saudosista com a época que se foi, juntamente com sua arte caracteristica e seu glamour. Na verdade, o que ele esta' fazendo é exatamente o que a Arte Contemporânea faz ha mais de 50 anos (e que, para uma pessoa publica e influente como ele, deveria ser obvio): questionar os valores modernos da industria cultural, procurar suas raizes num passado longinquo e não ter perspectivas de um futuro palpavel..

As Artes refletem exatamente - porém subjetivamente - o momento pelo qual a sociedade em questão esta passando. E assim acontece com a Arte Contemporânea. Torna-se necessario a todos nos percebermos esse movimento critico tão importante.

Não estou negando que nos dias de hoje muito do que é produzido é produzido exclusivamente para agradar às massas e arrecadar lucros megalomaniacos; porém em toda a historia da arte houveram artistas que produziam para ganhar dinheiro.

A diferença é que vivemos em um tempo em que TUDO deve ser MEGA.

Portanto, ha Mega produções, Mega divulgação, Mega lucros - mas ha também os verdadeiros artistas, aqueles que foram e continuam sendo as minorias: minoria critica, minoria pensante, minoria revolucionaria, minoria visionaria.
E são a essas "Minorias" que devemos focar nossos olhos. Mesmo um MEGA diretor pode ser uma minoria. Inclusive, esta é uma caracteristica fundamental dessa época em que vivemos:

Tudo pode ser! 

O mundo e o homem são eternas construções sem um fim evidente, ou mesmo alcançavel. 
E a arte contemporânea evidencia essa caracteristica.

Logo, ao invés de se lamentar do tempo que passou, porque não se maravilhar com o que esta acontecendo?

Graças à globalização e mesmo a produção cultural, no's temos acesso direto a uma infinidade de pensamentos diferentes, expostos de diversas formas e livres para serem o que quiserem! Não ha como negar tal riqueza cultural.

É caracteristica do pensamento contemporâneo: sentir-se sem historia, sem raizes, sem valores, perdido no tempo e no espaço graças à pequenez do mundo, perdido de si graças à massificação da sociedade.

Mas é também caracteristica do momento em que vivemos: 
Buscar criar nossa propria historia, 
renovar e criar novos valores, 
recriar uma condição espaço-temporal nunca antes imaginada, 
sentir-se grande no mundo devido à sua liberdade de pensamento e de ação, ser livre de todas as amarras que existiam antes.

Portanto, ao invés de criticar o presente tendo em vista o passado, porque não reavalia seus proprios pensamentos Sr. Arnaldo Jabor e identifique-se como um homem contemporâneo, que tem todas aquelas caracteristicas negativas citadas acima e nenhuma das positivas citadas posteriormente!

Pense, procure entender, atualize seu banco de dados, abra os olhos, e então sera capaz de refletir sobre a Arte Contemporânea. So' então, dê seu parecer.

E tenho dito. 

PS.: Não tenho nenhuma critica quanto ao filme de Woody Allen, muito pelo contrario, respeito demais e sou fã do diretor.

PS.2: Também não tenho criticas quanto aos que gostam ou deixam de gostar      de determinada arte, apenas luto pela compreensão da sociedade face à Arte Contemporânea, que costuma ser rejeitada sem considerações mais profundas.






Marcel Duchamp - pioneiro na Arte Contemporânea



19 de ago. de 2011

Dark Dark Dark

Essa banda me interessou principalmente pela perfeita combinação da forte e imponente voz de Nona Marie Invie e do delicado som instrumental de acordeons, banjos e piano. 


De influência folk e jazz, Dark Dark Dark ja esta chamando a atenção do cenario alternativo mundial. 


Um som maravilhoso que vale a pena ser conferido. 









Mais infos da banda, no MySpace.

Download das musicas aqui. 

12 de ago. de 2011

Incêndios

Entre um filme e outro, um livro e outro, e eis que me lembro desse filme maravilhoso que assisti ano passado.


Incêndios, um filme canadense de Dennis Villeneuve. Como a maioria dos filmes bons, não saiu como blockbuster, apenas nos cinemas alternativos/ independentes.. O que é uma pena, pois o filme é digno de cadeia nacional..


Enfim... Conta a historia de uma mãe solteira que morre e deixa um testamento a seus dois filhos.
Nesse testamento ha duas cartas: a primeira a ser entregue ao pai deles, e a segunda, ao irmão também desconhecido.
Os irmãos saem em busca desses dois homens desconhecidos, que sequer sabiam da existência.. No Oriente Médio, em meio à guerra.


Apesar da sinopse ser simples e nada inovadora, o filme é repleto de cenas emocionantes e até revoltantes. Da odio, angustia, raiva.


Mas fala de amor.
Incrivelmente, é uma historia de amor.Um amor incondicional, que é passado às telas com perfeição.
Como nunca antes foi contada.


Realmente um filme maravilhoso. Que todos deveriam assistir.. Independentemente de estar nas grandes salas ou não.


Recomendo para o fim de semana.







7 de ago. de 2011

Eraserhead - Uma Leitura Subjetiva

Enquanto assistia a Eraserhead, de David Lynch, inumeras questões vieram à mente. Sobre o roteiro, a seleção de algumas imagens aparentemente nonsense, alguns objetos "de decoração" estranhamente selecionados. 
Tentei entender um a um para chegar a uma conclusão, no minimo, aceitavel. Não necessariamente verdadeira, se é que tal pretensão seja possivel. 


Minha conclusão foi acerca da critica ao ascetismo tão excêntrico que vivemos de algumas décadas para ca. 
Para quem não sabe, o ascetismo é uma filosofia de vida que visa purificar o espirito negando as reações corporeas. Essa filosofia se estendeu por todo nosso cotidiano, querendo ou não. Por exemplo, a carne perfeitamente cortada e embalada no supermercado é uma forma de ascetismo: negamos a visão perturbadora do animal morto e ensanguentado indo para nossas mesas. 


Acho que deu pra entender. Vamos ao meu brainstorming.


Selecionamos o que queremos ver e registrar. O q você anda apagando, é o que deveria ser apagado? A realidade é realmente como acha que é? Ou estão faltando partes fundamentais que trazem à vida sua intensidade? 
O sangue é o que mais nos choca, portanto, praticamente o excluimos de nossas visões.. Nem mesmo a carne consumida possui sangue hoje.. Evita que nos lembremos de sua origem. A vida. E a morte, consequentemente.


Nos afastamos de tudo que nos traz asco. Apagamos de nossas vidas momentos desagradaveis e sujos. Tentanto, dessa forma, viver "mais felizes"? Mais puros? 


A visão de um filho seu (uma obra sua, sua criação) que nasce deformado, que causa repulsa, você cuidaria dele do mesmo modo que cuidaria caso fosse um bebê "capa de revista"? 
Nos somos os causadores e produtores dessa sociedade ascética, que não quer enxergar a realidade, não quer enxergar a vida, tal como ela é. 


E no entanto ela esta ali, ao seu lado, inevitavelmente. Gritando por sua atenção. Mostrando sua verdadeira face, aquela que resolvemos apagar de nossa visão. De nossa historia. 
Porque ao negar a vida, estamos aceitando a morte. é uma questão logica. 
Aceitar a morte, neste contexto, significa perder o brilho e a emoção reais; é perder o contato com nossa essência humana. Que tentamos, por tanto tempo, modificar. 


No entanto, ao mudar a essência de algo, esse algo permanece o mesmo? Ou se transforma em outra coisa?  
A literatura futurista sugere que nos tornaremos outra coisa, e não mais um ser humano.. é de se pensar..


Não estou dando fatos do filme, cabe assisti-lo, a quem se interessar (afinal, não é um filme facil de levar até o final, além de sermos constantemente deparados com o que é real na vida). E ter sua propria visão. Sua interpretação. 


Eraserhead é um filme muito confrontador e por vezes perturbador em suas imagens, mas extremamente (sim, frisado), extremamente sutil ao passar sua mensagem. O que induz a inumeras interpretações. Sem perder seu objetivo.


Recomendo a todos que se interessem, ou que não tenham a preguiça cômoda de assistir a um filme pronto e obvio. 




Deixo o trailer. E boa leitura. 


29 de jul. de 2011

Melancholia

Poderia ser mais um filme sobre o fim do mundo, um tema tão popular hoje em dia.
No entanto, é um filme do Lars Von Trier,  e como tal, tem muito o que falar. E pensar.


Mas principalmente sentir.


O filme é dividido em duas partes e conta a história de duas irmãs. Uma é extremamente racional e calma, enquanto a outra é totalmente passional e sofre de uma espécie de depressão. O filme relata a reação das duas frente à possível colisão do planeta Melancholia com o planeta Terra.


À parte a história, o que mais chama minha atenção no cinema de Lars Von Trier é a sua capacidade e talento de fazer de um longa metragem uma obra de arte. O filme é composto por cenas que poderiam ser enquadradas com  uma bela moldura, ou ainda pode-se fechar os olhos e apenas ouvir a sinfonia que embala todo o desenrolar do filme, ou por fim, como outros diretores contemporâneos, sentir na pele todo o medo, a melancolia e depressão que envolvem as personagens.


Um filme como o Melancholia deve ser admirado no cinema, do mesmo modo que admiramos um Van Gogh no museu. É necessário o ambiente propício para que toda a experiência estética provocada pelo filme seja apreendida. Assim como não temos a mesma experiência ao ver Van Gogh na tela do computador, ou em livros de arte, o novo filme de Lars Von Trier não deveria ser visto em casa.


Fica a dica para o fim de semana.
O filme é maravilhoso. De sair com o coração preenchido daquela sensação que ninguém ainda deu nome, mas que todos conhecem..


.

28 de jul. de 2011

Limites??

Quando a arte rompeu com todos os limites que pudessem existir, infinitas formas de expressão ganharam lugar no mundo, e no coração das pessoas.


Não existem mais barreiras, tudo é valido. A criatividade é ilimitada. 


E nesse contexto ha espaço para toda forma de expressão pessoal. 


Além dos pintores e expositores que um dia ainda pretendo falar sobre, surgem cada vez mais musicos que não conhecem o significado da palavra impossivel. A popularização da Arte é um presente e quase uma exclusividade da nossa geração. 


Foi-se o tempo em que a musica classica e seus instrumentos especificos eram privilegio de uma classe.
Deixo a dica de uma banda (entre tantas nessa linha) pouco conhecida, mas que me chamou demais a atenção  pela simplicidade e alta qualidade de seus musicos. 




Assim como 'Beirut', 'Flogging Mollie', 'Arcade Fire', 'Apocalyptica', 'Les Pascals' e muitos outros, é o violino e o contrabaixo saindo dos limites dos "Theatros Municipais" e indo para  o mundo.


27 de jul. de 2011

I'm Going to Mark You

"Remember I'm going to mark you, it is my great pleasure to reward real effort, it is my great pleasure to punish stupidity, laziness & insincerity. These marks wont make much difference in your later life, but my reaction to you will, but the reaction of your classmates to what you do, will". Paul Thek


Não conhecemos nada além de nós mesmos. Mesmo nossos pais, ou amigos mais íntimos. O que conhecemos deles é apenas as impressões que eles nos deixam.

Só eu sou capaz de dizer e/ou conhecer o que acontece dos meus olhos para dentro. E só você é capaz de dizer o que acontece dos Seus olhos para dentro. Tudo que o outro faz ou diz, é interpretado pelo seu interlocutor.
Tudo, absolutamente tudo que existe no mundo é interpretação. É a sua visão,     a sua leitura e a sua interpretação.

Por isso não existem verdades universais. Cada grande texto, de cada grande homem que já tivemos contato, foi simplesmente a expressão de seu modo de ver o mundo. Visões originais, de seres pensantes (e não copiantes), que foram capazes de influenciar outras visões. Mas ainda assim, visões pessoais.

Spinoza tinha uma teoria, a de que tudo no mundo é uma coisa só. Uma única forma de existência, modificada em infinitas formas de vida. E cada forma de vida é conectada à outra, e dependente dela para viver. Segundo Spinoza, todos esses corpos estão em constante contato, e cada contato deixa uma marca, em nós e no outro corpo. E é através dessas marcas, que nossa mente compreende o que está ao redor de seu corpo (afinal, o corpo não pensa, só sente. E cabe à mente traduzir as sensações em idéias).

Portanto, quando Paul Thek afirma que irá deixar marcas em seus alunos, ele de fato as deixará, assim como também será marcado por cada aluno seu. Objetivamente essas marcas que deixamos nos outros em nada nos muda, mas subjetivamente, a cada marca deixada fica uma recebida. E é essa marca recebida que nos faz conhecer melhor o mundo e a nós mesmos.

Mas por que conhecer melhor a nós mesmos?
Porque, se o nosso corpo não recebe marcas externas, nossa mente não faz idéia (literalmente) do que existe materialmente. Só aprendemos quem somos nós e quais nossos limites quando lidamos com os outros e fazemos comparações. Se não houvesse espelhos (o outro), você saberia dizer qual a sua aparência?
Se não houvesse outros pensamentos, você saberia dizer o que pensa?

Se não houvesse outros seres, você saberia dizer se existe?

24 de jul. de 2011

A Delicadeza do Amor

The Nightingale and The Rose


Uma das formas mais sutis e detalhadas de explicar o amor.

Oscar Wilde, grande escritor irlandês do século XIX. Sua sensibilidade em expressar o sentimento humano, e sua delicadeza com as palavras fizeram dele um dos mais importantes poetas atemporais.

The Nightingale and The Rose é um conto. Descreve a angústia de um menino apaixonado, perdido em devaneios durante uma fria noite de inverno. No entanto, como o título sugere, o menino apaixonado é apenas um menino. Aquela personagem que nos faz identificar e querer ler o resto da história. Mas quem dá vida e cor ao conto, é o pequeno Nightingale, um Rouxinol.

O pássaro simboliza a fragilidade e a devoção de todos os apaixonados. Ele dá sua vida em troca da rosa mais bela e vermelha que a roseira pode gerar. Ele se sacrifica por amor ao menino apaixonado.

A delicadeza e dedicação dessa pequena e frágil, porém determinada, ave, resume em linda narração a origem e os anseios dos enamorados:
O amor, tão belo e tão frágil como uma rosa; que exige  tempo e dedicação para surgir.
O enamorado, tão desesperado e dedicado como o pequeno rouxinol, que está designado a abrir mão de sua vida para que o amor esteja presente.

E ambos envolvidos em uma sociedade materialista e superficial, que, mesmo permitindo alcançar o amor àqueles que profundamente o desejam, não cansa de soprar o inverno frio, metálico e cinza que rouba o calor último do coração até mesmo dos mais empenhados.



Oscar Wilde é uma leitura obrigatória. Abre nossos olhos e enche nosso peito de um sentimento inexprimível. É a rosa vermelha que insiste em brotar no inverno frio e rigoroso em que vivemos.


Caso queira comprar, fica a dica e o link aqui.
Boa leitura. 

14 de jul. de 2011

Minha Vida em Números






25 anos de idade
5 meses pra começar e terminar o TCC
2 anos solteira
5 anos morando sozinha
5 empregos
1 mês no mais novo
6 meses no anterior
E no anterior
3 pessoas em casa
2 gatos
2 cidades
3 casas
15 amigos
249 segundo o fb
2 irmãos
20 e 22 anos de idade
3800 músicas no iTunes
9 dias de musica
50 filmes baixados
4 dias de filme
7 dias na semana
5 no trabalho
2 em casa
8 livros na cabeceira
1548288 minutos em média pra ler
4 horas de internet por dia
1460 horas por ano
32 horas por mês com os amigos
384 horas por ano
3,8 vezes menos horas com os amigos
3,8 vezes mais horas na internet
960 horas por mês no trabalho
144 livros lidos
3 viagens internacionais
2 continentes
23 anos de consciência
2 anos de... Escuro?
3 grandes perdas
10 grandes ganhos
Em 25 anos

Como será quando tiver 75? Será tudo isso multiplicado por 3?
Ou em algum momento, passamos da multiplicação para a divisão?

Em alguns pontos os números aumentarão drasticamente... Em outros, só não irão a negativo por impossibilidade física.

Li um texto do Paul Thek que ele distribuía a seus alunos. Normalmente não nos questionamos sobre nós, ou mesmo sobre nossas vidas...
Nesse texto, Thek forçava cada indivíduo naquela sala de aula, a, no mínimo, parar para pensar sobre suas convicções. E quem sabe, mudar, ou tornar-se consciente de suas escolhas.
Deixarei o link aqui, caso alguém tenha a curiosidade, e a coragem, de se colocar contra a parede.

Vale a pena tentar responder. É um exercício de consciência.
Coisa que hoje em dia, está escassa.
Afinal, você vê... Mesmo questionando minha vida em números, não citei em nenhum momento o tempo gasto com questionamentos. Pessoais ou não.  Pelo visto os outros números são mais importantes.
Mas isso não é verdade. Tem quem nunca nem mesmo se dê conta do tempo que passou. Tem quem nunca se dê conta de si mesmo. Ou dos outros.

Vale a pena colocar sua vida em números, e perceber qual a importância que está dando a determinadas coisas fúteis em detrimento de outras fundamentais.