15 de mar. de 2012

Efêmero


Por algum motivo muito estranho achamos que as coisas não mudam. 
Muitas pessoas se apegam a pequenas coisas achando que estas serão eternas. Mesmo quando tudo em volta indica que não... 
Emprego, carro, casa, cidades, amigos, familia. Tudo passa, tudo muda. 

O mundo muda, é ciclico. Nossa vida muda a cada instante, so' não nos damos conta de todas as pequenas mudanças. Nosso corpo troca todas as suas células inumeras vezes. Não somos nem materialmente, os mesmos que nascemos. Somos outro, a cada dia. Felizmente, na minha opinião. 

Por que então, achamos que as coisas são eternas? Porque nos apegamos tanto ao nosso emprego? Ao marido ou esposa? À casa? À no's mesmos? 

Enxergar e aceitar as mudanças eternas de nosso dia a dia faz parte do caminho para nossa felicidade. Aceitar a efemeridade. A renovação. A limpeza.

Assim como entram em nossas vidas todos os elementos de que precisamos, saem dela todos aqueles que não nos servem mais. Por qualquer que seja o motivo.

Devemos nos apegar, sim, ao presente. Ao que acontece no aqui e agora. O antes e o depois, passado e futuro, não existem de fato. 
Aproveitar cada momento do presente, cada lição, cada ensinamento, cada oportunidade de ser feliz e de crescer. 

E deixar passar o que não mais serve. Deixar passar o inverno, para que chegue o verão. O verão, para que chegue o inverno. 

"Temos certeza somente de duas coisas: da morte e da mudança. As duas de difícil aceitação. Quer sobreviver; comece a morrer e a mudar! "  Jerson Minoru Yokota 

E é isso.

27 de jan. de 2012

Sobre o que aquece o Coração





No meu caso, é o cheiro do fermento fresco sendo hidratado.


Parece ser totalmente sem sentido, mas não é.  Hoje me deu uma subita vontade de fazer pão. Afinal, com um dia chuvoso e frio, sem precisar ir trabalhar e com quase 1kg de farinha estragando na geladeira... Melhor que isso so' se fosse bolo de chocolate!


Enfim, fui fazer pão.
Separei os ingredientes, e comprei o que faltava na padaria. Escolhi cuidadosamente a receita. E fiz.


No momento em que eu hidratava o fermento no leite, voltei à minha infância!
Como num passe de magica, la' estava eu, com menos de 1 metro de altura, ao lado da minha mãe, ajudando a fazer o pão. Pão esse que ela iria vender aos amigos, como forma de complementar nossa renda.


Fiz muitos pães quando criança.. Claro que minha ingênua memoria infantil não me permitira lembrar o quê exatamente eu fazia... Provavelmente apenas jogava a farinha ja separada no resto da massa. Mas não importa... O que importa mesmo é a sensação que ficou.


Hoje, enquanto eu hidratava o fermento, aquele cheiro tomou conta de todas as minhas células, preencheu meu corpo com a energia da criança de outrora. Inundou meu coração com um calor que ha muito não sentia.


Estava feliz. Revivendo momentos de alegria junto à minha mãe. Mesmo estando a kilometros (e anos) de distância.


Coisas tão simples.
Não precisei comprar a ultima versão do iPhone da Apple, nem deixar de pagar aluguel.
 Foi apenas assar um pão...


Sinceramente. Pra mim, isso é a felicidade.
Quem consegue, através de pequenos detalhes da vida sentir esse calorzinho no coração, é feliz.
E nada mais importa.

15 de jan. de 2012

"Dos Homens e dos Deuses"


Uma das películas mais bonitas que assisti nos ultimos tempos.
Através de um roteiro simples, o longa conta a história de um monastério localizado em um territorio árabe que entra em guerra.

A guerra, em si, não é explorada; mas serve de base para a dissecação de uma guerra ainda mais comum que a religiosa: a do homem consigo mesmo.

Disputas internas, embates do ego com o espírito, da fé com a razão, abalos na suposta crença tomada como verdade divina, personalidade humana versus dedicação exclusiva ao outro.
Todas essas questões são expostas durante o filme, através das atitudes e pensamentos dos monges, que devem escolher entre permanecer na província em guerra ou voltar a seu país de origem.

Vale atentar para os diálogos, que são profundos e repletos de sabedoria. Ensinamentos para a vida. Inclusive há grandes citações, indo de Pasqual a Thomas Merton. Da Filosofia à Religião.

Com a direção de Xavier Beauvois, Dos Homens e dos Deuses recebeu 17 nominações e 7 prêmios, dentre eles, o Grande Prémio do Festival de Cannes em 2010.




Devaneios sobre a vida

Esse tempo em que fiquei afastada me fez pensar muito... Mais do que o usual... 


Depois de ter arrancado até a ultima gota de inspiração para escrever o projeto de mestrado e participar do processo de seleção, me vi obrigada a calar. Calei as palavras, as ações, e os pensamentos.


Quando não respeitamos nossos limites (sejam fisicos, emocionais ou mentais), nosso corpo o faz por conta propria... Ficamos doentes. Para isso, antes de ficar doente, eu me calei. Fui respeitar o tempo que meu corpo e mente exigiam. Ou necessitavam...


Não contabilizei os meses em que calei. Simplesmente calei, esperando que um dia, voltasse "ao normal".  E essa volta esta ocorrendo gradualmente. Felizmente! 


E foi justamente nessa volta que me vi com uma questão fundamental. Principalmente na Filosofia:


 "Afinal, para que mesmo estamos aqui??? Para que mesmo fazemos tudo isso???"


Independente da filosofia de vida, de mente ou de religião que se siga; acho que todos temos a mesma resposta: "para ser feliz". Certo? 
Agora, o que muda mesmo é o caminho que cada um trilha para o tão almejado "ser feliz". 


Como autora do texto, desses pensamentos e da minha vida, direi a minha opinião e o meu caminho a ser seguido. E cada um, com suas crenças e vidas, que encontre o seu. 


Na minha opinião, "ser feliz" não é o destino, mas o caminho.  O destino mesmo, eu não sei qual é.  


Vou explicar melhor. 


Quando saimos para uma viagem. Planejamos tudo com antecedência. Sabemos qual avião pegaremos, qual hotel estara reservado por tantos dias, e quais cidades iremos visitar. Mas não fazemos a menor idéia de como sera  a viagem de avião, como iremos mudar e o que iremos aprender até chegar nosso objetivo, nem  qual sera nossa sensação ao chegar na cidade, isso se chegaremos até la... Apenas esperamos que sim. 


Pois bem... Espero ter alguns objetivos realizados na minha viagem. E tenho, mais ou menos, alguns meios planejados de atingir esses objetivos. Mas não faço ideia de quem eu serei quando estiver perto desses objetivos, não imagino quem ou que posso encontrar no meu caminho; não tenho ideia de como essa viagem ira me mudar como pessoa, nem se mudarei de objetivos ao longo da viagem... 


O que sei é: se eu estiver feliz ao longo do caminho, não importa aonde ele me levara... 


E assim vou levando. Fazendo amigos, conhecendo novos caminhos, me tornando uma pessoa melhor  e com mais bagagem. E, vez ou outra, mudando meu destino.. De forma que continue sempre no caminho..
Por que, na verdade, para mim, a gente so' para mesmo quando morre. 
E quem para antes, é como o enfermo que entrega os pontos e apenas espera pela morte. 



@Amsterdam


2 de nov. de 2011

A pele que tu habitas



Uma semana apos assistir ao novo filme de Almodovar, "A pele que habito", permaneço pensando.


O filme trata com destreza as dificuldades que suas duas personagens principais têm com suas imagens.
Sua trama extremamente rica em detalhes e em questões psicologicas nos prende até o final, e por mais alguns dias.. Da o que pensar.


No meu caso, o que mais me chamou a atenção foram as crises existenciais por que passam as personagens. Cada um tem uma questão, que vai se desenrolando ao longo do filme. O médico aparentemente confiavel, responsavel e bem visto na sociedade mostra sua "outra face", enquanto que Vera, uma mulher atraente e tranquila demonstra todas as suas angustias que permanecem internas, não são expressas.


Nos ultimos 50 anos, pelo menos, vivemos uma cultura de imagens, na qual devemos (ou deveriamos?) exibir uma imagem correspondente aos nossos anseios materiais. Adultos devem exibir (literalmente) seu sucesso e independencia, jovens devem exibir sua revolta, enfim.. Cada um expondo suas ideologias e status...
O que acontece quando ha um exagero, um profundo culto à imagem pura e simples, é a abstração do que ha por tras, no interior das pessoas.. Julgamos o livro pela capa. E todos sabemos que muito além da imagem que representamos ha uma infinidade de outras caracteristicas e interesses muito mais profundos que simplesmente não podem ser deduzidos de nossa "imagem  publica".


Antes de defender com todas as armas sua imagem, ou de criticar a do outro, procure perceber e se questionar o que o leva a se mostrar de tal maneira, quais são suas influências? O que esta querendo afirmar com esta imagem? O que esta tentando esconder com essas mascaras?


O segredo da felicidade encontra-se em aceitar-se tal como é, sem nada a provar nem a si ou aos outros. "Torna-te aquele que és." diz Nietzsche. Conheça a si mesmo, e automaticamente essa sera sua imagem, sua pele. Sem mascaras, sem imagens pré planejadas.


Habita tua propria pele, e não a dos outros.